Banda carioca aposta na junção de ritmos e idéias em show empolgante
Logo na entrada do HSBC Brasil - casa de shows de São Paulo onde acompanhei a apresentação d'O Rappa no sábado, 28 de março - escutei alguns questionamentos sobre o mais recente trabalho da banda carioca. Perguntas como: "Você conhece esse novo cd?" ou "Esse show, qual é? Ouvi dizer que tem cd novo, né?" permeavam a fila da casa. Dúvidas que evidenciavam a fraca divulgação e a, nem tão grande, aceitação do público em relação ao novo álbum "7 vezes", lançado no segundo semestre de 2008.
Já no hall de entrada topo com a lojinha onde todos se extasiavam com uma camiseta d'O Rappa: um aperto de mãos entre uma mão negra e outra branca, embaixo lia-se "Cor da pele? Foda-se"...
o HSBC Brasil é uma casa de tamanho médio para pequeno, mas com um sistema de som poderoso e algumas soluções interessantes de acomodação - na parte de trás existem baias com degraus que dão um pouco mais de conforto para a platéia que não é "da grade" nem "do meião".
Aos poucos a casa vai se enchendo e logo os ânimos se agitam, surgem os primeiros gritos de "O Rappa". A atmosfera é de muita expectativa e unidade. O clima criado pela platéia beira a euforia e explode quando as luzes se apagam. Começa, nos telões da casa, um pequeno making-of da atual turnê, o Rappa chegou.
Para quem foi armado de precauções e receios o guitarrista Xandão responde puxando a introdução alucinante de Ilê Ayê - do álbum O Rappa Mundi(1996). Uma escolha perfeita para iniciar o show da turnê também denominada "7 vezes". A música ganha todos os presentes, inclusive os fãs mais antigos e exigentes.
A segunda foi "Meu Mundo é o Barro", atual música de trabalho, que manteve os ânimos e puxou a galera para cantar. Aliás, as canções do novo álbum funcionam muito melhor ali no palco, ao vivo. No cd as músicas caminham com menos entusiasmo.
Vale destacar a atuação do DJ Negralha que, por muitas vezes, insere vinhetas entre as músicas, lembrando ídolos do Rappa como Bob Marley e Bezerra da Silva. Bezerra que dá a letra para Marcelo Falcão saudar Zeca Pagodinho com "se eu quiser fumar eu fumo, se eu quiser beber eu bebo..." em uma interessante capela entoada junto aos fãs.
Falando em Falcão, é notória e impressionante a presença de palco ostentada pelo vocalista, que emprega seu estilo, masasgeia o ego paulista com um "salve, salve São Paulo, o pulmão do Brasil" - talvez ele guarde o coração para Rio - e canta com extrema facilidade e absoluta competência.
Falcão é a cara d'O Rappa. Escancara a alma da banda cantando sucessos como "O Salto", "A Minha Alma", "Hey Joe", "Lado B lado A", "Me Deixa" e supera as espectativas com as novas "7x", "Óstia", "Meu Santo tá cansado" e "Monstro Invisível". Todos as músicas na boca e na alma dos presentes, até aqueles que não conhecem as novas composições se rendem ao embalo.
Tecnicamente os músicos cariocas continuam muito bem. O baixista Lauro Farias desenha as marcações com redundante competência e é o principal responsável por segurar o ritmo e fluidez das músicas. Sem ele os experimentalismos que permeiam os outros instrumentos não seriam possíveis. A cozinha ganhou novas receitas com a integração de Cleber Sena na bateria - desde o Acústico MTV de 2005 - já que Marcelo Lobato não deu conta após a saída de Marcelo Yuka. Lobato, que parece não ter achado seu lugar na banda, voltou as teclados e agora utiliza de sons mais experimentais para continuar com lugar cativo. O já citado Dj Negralha ganha notoriedade nos arranjos.
Outro que se aventurou pela difícil linha experimental foi o guitarrista Alexandre Menezes, o Xandão, mas que neste show foi mais básico e cru, dando uma linha interessante nas guitarras. Apesar de muito criativo, o frontman da guitarra, não figura entre os melhores dos Brasil.
A "Farpa Cortante" d'O Rappa seguiu destilando verdades e desafios que os brasileiros de todos os Brasis que conhecemos enfrentam diariamente. As letras tecem sabedorias populares e aspirações verdadeiras que carregam multidões em seus signos de fé, coragem e percalços. Poucas bandas fazem protestos com propriedade, coesão e sensibilidade. Talvez a melhor delas seja O Rappa.
"Súplica Cearense", de Luiz Gonzaga, dá um tom ainda maior de brasilidade, uma bonita homenagem ao "Rei dos reis", como disse Falcão antes de cantar os versos nordestinos.
O som extremamente redondo da banda foi uma vez ou outra prejudicada por microfonias e, durante todo o show, o baixista Lauro sofreu com um insistente "tec tec" - constatado apenas pelos ouvidos mais calibrados e acostumados com ruídos de uma banda - ao tocar seu instrumento. Entretando, não houve nada que atrapalhasse consideravelmente a grande celebração.
Destaque para a cenografia de Zé Carratu. O projeto levou em consideração a grande quantidade de shows que a banda costuma fazer e foi desenvolvido em tecido com bordados e aplicações, fácil de desmontar e levar para qualquer lugar. O diferencial fica por conta das bonitas projeções que remetem à música, como em "O Rodo Cotidiano" onde o palco se transformou em uma estação de trem, ou ao álbum, caso de "Homem Amarelo". As luzes também merecem elogios, muito bem sincronizadas com as músicas e atitudes dos artistas sobre o palco.
A apresentação da banda foi feita durante a execução de "Pescador de Ilusões", que tocou muito, até de forma estafante, por todo o Brasil. Menção aos inusitados gritos de "Vai Ronaldo" enquanto Falcão cantava "se meus joelhos não doessem mais..."
O Rappa "7X" é um grande show. Composições novas que funcionam, sucessos que agitam e idéias que perturbam e fazem pensar. Uma banda que roda melhor nos palcos do que em estúdio, algo que deve sempre acontecer. Do contrário, há algo muito errado.
O Rappa tenta - e consegue - reunir brasilidade a um mar de idéias, sons e atitudes. Evidenciam que somos todos iguais. Todos brasileiros.
(muito boas as balinhas que a Samsung distribuiu na entrada e as camisetas cor de pele? foda-se acabaram)
Artista: O Rappa
Show: 7x
Cotação: * * * * 1/2
28/03/2009
www.orappa.com.br
Já no hall de entrada topo com a lojinha onde todos se extasiavam com uma camiseta d'O Rappa: um aperto de mãos entre uma mão negra e outra branca, embaixo lia-se "Cor da pele? Foda-se"...
o HSBC Brasil é uma casa de tamanho médio para pequeno, mas com um sistema de som poderoso e algumas soluções interessantes de acomodação - na parte de trás existem baias com degraus que dão um pouco mais de conforto para a platéia que não é "da grade" nem "do meião".
Aos poucos a casa vai se enchendo e logo os ânimos se agitam, surgem os primeiros gritos de "O Rappa". A atmosfera é de muita expectativa e unidade. O clima criado pela platéia beira a euforia e explode quando as luzes se apagam. Começa, nos telões da casa, um pequeno making-of da atual turnê, o Rappa chegou.
Para quem foi armado de precauções e receios o guitarrista Xandão responde puxando a introdução alucinante de Ilê Ayê - do álbum O Rappa Mundi(1996). Uma escolha perfeita para iniciar o show da turnê também denominada "7 vezes". A música ganha todos os presentes, inclusive os fãs mais antigos e exigentes.
A segunda foi "Meu Mundo é o Barro", atual música de trabalho, que manteve os ânimos e puxou a galera para cantar. Aliás, as canções do novo álbum funcionam muito melhor ali no palco, ao vivo. No cd as músicas caminham com menos entusiasmo.
Vale destacar a atuação do DJ Negralha que, por muitas vezes, insere vinhetas entre as músicas, lembrando ídolos do Rappa como Bob Marley e Bezerra da Silva. Bezerra que dá a letra para Marcelo Falcão saudar Zeca Pagodinho com "se eu quiser fumar eu fumo, se eu quiser beber eu bebo..." em uma interessante capela entoada junto aos fãs.
Falando em Falcão, é notória e impressionante a presença de palco ostentada pelo vocalista, que emprega seu estilo, masasgeia o ego paulista com um "salve, salve São Paulo, o pulmão do Brasil" - talvez ele guarde o coração para Rio - e canta com extrema facilidade e absoluta competência.
Falcão é a cara d'O Rappa. Escancara a alma da banda cantando sucessos como "O Salto", "A Minha Alma", "Hey Joe", "Lado B lado A", "Me Deixa" e supera as espectativas com as novas "7x", "Óstia", "Meu Santo tá cansado" e "Monstro Invisível". Todos as músicas na boca e na alma dos presentes, até aqueles que não conhecem as novas composições se rendem ao embalo.
Tecnicamente os músicos cariocas continuam muito bem. O baixista Lauro Farias desenha as marcações com redundante competência e é o principal responsável por segurar o ritmo e fluidez das músicas. Sem ele os experimentalismos que permeiam os outros instrumentos não seriam possíveis. A cozinha ganhou novas receitas com a integração de Cleber Sena na bateria - desde o Acústico MTV de 2005 - já que Marcelo Lobato não deu conta após a saída de Marcelo Yuka. Lobato, que parece não ter achado seu lugar na banda, voltou as teclados e agora utiliza de sons mais experimentais para continuar com lugar cativo. O já citado Dj Negralha ganha notoriedade nos arranjos.
Outro que se aventurou pela difícil linha experimental foi o guitarrista Alexandre Menezes, o Xandão, mas que neste show foi mais básico e cru, dando uma linha interessante nas guitarras. Apesar de muito criativo, o frontman da guitarra, não figura entre os melhores dos Brasil.
A "Farpa Cortante" d'O Rappa seguiu destilando verdades e desafios que os brasileiros de todos os Brasis que conhecemos enfrentam diariamente. As letras tecem sabedorias populares e aspirações verdadeiras que carregam multidões em seus signos de fé, coragem e percalços. Poucas bandas fazem protestos com propriedade, coesão e sensibilidade. Talvez a melhor delas seja O Rappa.
"Súplica Cearense", de Luiz Gonzaga, dá um tom ainda maior de brasilidade, uma bonita homenagem ao "Rei dos reis", como disse Falcão antes de cantar os versos nordestinos.
O som extremamente redondo da banda foi uma vez ou outra prejudicada por microfonias e, durante todo o show, o baixista Lauro sofreu com um insistente "tec tec" - constatado apenas pelos ouvidos mais calibrados e acostumados com ruídos de uma banda - ao tocar seu instrumento. Entretando, não houve nada que atrapalhasse consideravelmente a grande celebração.
Destaque para a cenografia de Zé Carratu. O projeto levou em consideração a grande quantidade de shows que a banda costuma fazer e foi desenvolvido em tecido com bordados e aplicações, fácil de desmontar e levar para qualquer lugar. O diferencial fica por conta das bonitas projeções que remetem à música, como em "O Rodo Cotidiano" onde o palco se transformou em uma estação de trem, ou ao álbum, caso de "Homem Amarelo". As luzes também merecem elogios, muito bem sincronizadas com as músicas e atitudes dos artistas sobre o palco.
A apresentação da banda foi feita durante a execução de "Pescador de Ilusões", que tocou muito, até de forma estafante, por todo o Brasil. Menção aos inusitados gritos de "Vai Ronaldo" enquanto Falcão cantava "se meus joelhos não doessem mais..."
O Rappa "7X" é um grande show. Composições novas que funcionam, sucessos que agitam e idéias que perturbam e fazem pensar. Uma banda que roda melhor nos palcos do que em estúdio, algo que deve sempre acontecer. Do contrário, há algo muito errado.
O Rappa tenta - e consegue - reunir brasilidade a um mar de idéias, sons e atitudes. Evidenciam que somos todos iguais. Todos brasileiros.
(muito boas as balinhas que a Samsung distribuiu na entrada e as camisetas cor de pele? foda-se acabaram)
Artista: O Rappa
Show: 7x
Cotação: * * * * 1/2
28/03/2009
www.orappa.com.br